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Grandes reservatórios de água perderam volume e podem não ser boa solução para abastecimento a longo prazo, alerta estudo

A ENGIE é hoje a maior geradora privada de energia. Na foto, a Usina Hidrelétrica Jaguara, em Rifaina
PUBLICADO EM 15/06/2023

Um novo estudo utilizando imagens de satélite está apontando que grandes reservatórios de água podem não ser uma solução eficiente para preservar o abastecimento no mundo no futuro. Isso porque, a despeito de várias novas represas, barragens e reservatórios construídos no planeta entre 1999 e 2018, o volume de água armazenada nessas estruturas caiu no período.

A pesquisa, publicada na Nature Communications, mostra que o “armazenamento normalizado de água” – razão entre o volume de água armazenada e a capacidade total dos reservatórios – caiu quase 1% em 7.245 reservatórios em todo o mundo, mesmo com um crescimento anual médio de 28 quilômetros cúbicos na capacidade dos reservatórios. O estudo considera tanto as estruturas que armazenam água para consumo humano quanto represas e barragens hidrelétricas.

Segundo o principal autor do estudo, Huilin Gao, da Texas A&M University, o aquecimento global é um “fator crítico” na perda de eficiência dos reservatórios. Mas o aumento da demanda por água, afirma, também desempenhou um papel importante. "Mesmo que as temperaturas parem de subir, o aumento da demanda e novas construções provavelmente continuarão", afirmou à Reuters.

A queda nos volumes de armazenamento concentrou-se principalmente no hemisfério sul, especialmente na África e na América do Sul, onde a demanda por água aumentou rapidamente e os novos reservatórios não se encheram tão rapidamente quanto o esperado.

Já a China foi uma das poucas regiões em que os volumes de água armazenada aumentaram, ainda que ligeiramente. Isso é resultado do maior escoamento de água nas principais bacias hidrográficas do país, o que pode sugerir que o país se beneficiará de novos reservatórios, disse Gao.

Dúvidas para o futuro

Secas prolongadas levantaram, nos últimos anos, questões sobre a viabilidade de grandes reservatórios de água. A China viu a produção hidrelétrica despencar no verão passado, resultado de altas temperaturas recordes na bacia do rio Yangtze.

Também há a questão da sedimentação nos reservatórios, que o estudo não levou em conta. Esse problema, no entanto, deverá reduzir a capacidade de armazenamento de água no mundo em um quarto até 2050, de acordo com a Universidade das Nações Unidas.

Mas há importantes atores que ainda acreditam nos grandes reservatórios como soluções importantes. A Associação Internacional de Energia Hidrelétrica aponta que eles desempenham um "papel de mitigação crucial em uma era de aumento dos extremos climáticos", tornando mais fácil regular os fluxos de água.

“À medida que o clima se torna mais volátil, precisaremos de mais, e não menos, infraestrutura de água, com o bônus da muito necessária eletricidade de baixo carbono”, afirmou a organização à Reuters.

No Brasil

O Brasil é um país que depende em grande medida da energia hidrelétrica e pode ser afetado por grandes perdas nos reservatórios de água. Atualmente, cerca de 60% da eletricidade brasileira vem de fontes hidrelétricas, segundo estudo recente da Coalizão Energia Limpa. A mesma pesquisa aponta que variações cada vez mais frequentes no regime de chuvas e secas mais intensas e prolongadas ameaçam a produção de energia.